sexta-feira, 23 de maio de 2008

Brisa

A um coração puro, um sopro ou brisa de luxúria, brada com a urgência de um espírito despedaçado pela morte de seu amor.

Tal sopro ou brisa devora-lhe a alma com tamanha voracidade que se torna insuportável resistir ao pecado.

Este coração não mais quer ouvir sopros ou brisas, entretanto, não pode ignorar um pranto apaixonado.

Deixe-o vida, este não precisa mais de ti, Precisa de paixão e pecados.

O Corvo

Edgar Alan Poe é o cara! Este é seu poema mais conhecido, muito bom...


Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de alguém que batia levemente a meus umbrais.
"Uma visita", eu me disse, "está batendo a meus umbrais.
É só isto, e nada mais."
Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro
E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
Como eu qu'ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
P'ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais -
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,
Mas sem nome aqui jamais!
Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo
Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais!
Mas, a mim mesmo infundindo força, eu ia repetindo:
"É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;
Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.
É só isto, e nada mais."
E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante,
"Senhor", eu disse, "ou senhora, de certo me desculpais;
Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo
Tão levemente, batendo, batendo por meus umbrais,
Que mal ouvi..." E abri largos, franqueando-os, meus umbrais.
Noite, noite e nada mais.
A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,
Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais.
Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,
E a única palavra dita foi um nome cheio de ais -
Eu o disse, o nome dela, e o eco disse os meus ais,
Isto só e nada mais.
Para dentro então volvendo, toda a alma em mim ardendo,
Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.
"Por certo", disse eu, "aquela bulha é na minha janela.
Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais.
Meu coração se distraia pesquisando estes sinais.
É o vento, e nada mais."

terça-feira, 13 de maio de 2008

Portas

"Se as portas da percepção se abrissem tudo se pareceria como é" Blake/Huxley

Esta frase de Blake, popularizada por Aldous Huxley em seu livro As portas da percepção, é uma torrente de possibilidades. Pensando que a percepção é tudo é por onde percebemos nossa existência no universo e que no fim das contas não passam de impulsos elétricos no cérebro, o universo na verdade não existe fora de nossas cabeças. Ele não é como o vemos, ele nao é como é. Por isso quando Blake diz que se estas portas se abrissem nós veriámos a verdade desnublada por nossa percepção tudo se pareceria exatamente da forma como nós não vemos.

As possibilidades conjecturais para esta compreenção são infinitas, mas talvez a mescalina de Aldous aujde...